terça-feira, 3 de julho de 2007

Em solo africano




Hoje é meu quarto dia de missão aqui na Tanzânia, África oriental. Estou na província de Moshi, aos pés do Monte Kilimanjaro, o mais alto da África. Enquanto aventureiros do mundo inteiro tentam chegar ao seu topo, a mais de 5.700 metros de altura, eu me esforço o possível para que multidões alcancem a Vida Eterna.

Estou hospedado num convento de irmãs religiosas. Neste momento a luz do meu quarto não está funcionando. Uma vela ao lado esquerdo do meu notebook produz uma tenue luz que se projeta sobre o teclado. A temperatura está agradabilíssima. Lá fora, um vento brando faz as árvores balançarem, compondo uma suave sinfonia de louvor ao Criador. E’ um barulho semelhante às ondas do mar quando quebram na praia. É um lugar de muita paz.

Cheguei à Tanzânia no dia 29 de junho passado. De São Paulo a Johanesburgo, África do Sul, foram 8 horas de voô. Pernoitei na casa do casal Hilário e Conceição Freitas. São de Portugal, mas moram há mais de 2 décadas em JHB. Meu primeiro compromisso em JHB foi fixar um dente que caiu quando eu estava saboreando um sanduíche no aeroporto de Guarulhos, São Paulo. À noite fui convidado a pregar no grupo de oração La Rochelle, para portugueses. O frio era de congelar. Naquela noite o Espírito Santo os exortou a jamais perderem a esperança nas promessas de Deus, porque a esperança é a certeza daquilo que não se pode ver.

No dia seguinte embarquei para Dar es Salaam, a maior cidade da Tanzânia, com cerca de 2 milhões de habitantes. Ao meu lado sentou um guia de safáris. Disse-me que guiaria um grupo de turistas durante 1 mês. Bem, pensei comigo mesmo, a tentação de abandonar a missão é grande, mas quem parte semeando a chorar, ao voltar com sorrisos colherá.

Haja fé

No aeroporto internacional de Dar, enquanto preenchia os papéis para entrar no país, lembrei-me que esquecera minha filmadora debaixo do assento do avião. Para vencer o pânico disse a mim mesmo que isso não era o mais importante na missão. Se estava racionalizando ou não, era um golpe duro não ter imagens para mostrar aos irmãos e irmãs de caminhada. Subitamente avistei uma funcionária do aeroporto e expus-lhe o ocorrido. Pediu-me alguns minutos. Felicidade geral quando a vi retornar com a minha filmadora a tiracolo.

Fui recebido por minha intérprete na Tanzânia, Regina Masalu. Fomos direto para Jangwani, local onde está acontecendo o Kongamano Roho Mtakatifu, isto é, Cruzada do Espírito Santo. Sentadas na relva, como nos tempos de Jesus, milhares de pessoas ouviam com grande atenção um Pregador de Malta, de nome Noel. O acompanhava outro pregador da Nova Zelândia, Mark, com domicílio na Alemanha. Os dois estão à frente de uma escola de evangelização localizada em meio à Floresta Negra, no país de Bento XVI.

De Dar até Moshi nada menos do que 9 horas de viagem num banco apertado de um ônibus. Conforto total se comparado com o fogo do inferno. Para saquear o inferno e povoar o céu temos de estar dispostos a cruzar o oceano a nado, se preciso. No meio do caminho, uma parada estratégica. Homens para um lado e mulheres para o outro, mato adentro. Para fazer o quê? Tirar água do joelho, ora, pois, pois! Nosso ponto final foi a pequena vila chamada Rombo. Sem dúvida, a Palavra de Deus pregada faria um grande rombo nas obras das trevas.

Um povo sem igual

Antes de ir para meu alojamento, fui convidado a me apresentar à multidão de cerca de 3 mil pessoas que ouviam a pregação do padre Evaristo. É o padre exorcista da diocese de Moshi. Minha primeira pregação seria no dia seguinte, hoje portanto, 2 de julho (a postagem desta matéria é do dia 3).

Agora são 10h15 da noite. A luz do quarto decidiu funcionar. Minha preocupação agora é com a bateria do notebook. Restam 34%. Creio que vou conseguir terminar antes que tudo se desvaneca na tela do meu laptop.

Hoje, portanto, dia 2 de junho, fiz minha primeira pregação nesta missão de 2007. Preguei sobre o pecado. Certamente ‘e o pecado de n’os, homens, que deixou o continente africano marcado por terri’veis mazelas. Ai dos racistas, daqueles que julgam as pessoas pela cor da pele. Qual justificativa darao a Deus quando estiverem diante do juiz dos vivos e dos mortos?

A imagem do povo daqui nos deixa desconcertados. Gera em nós um misto de culpa, pena, admiração e revolta. Acostumados ao conforto, causa-nos estranheza que no meio de tão grande pobreza possa haver pessoas felizes. E de fato o são mais do que nós. A educação deste povo é simplesmente maravilhosa. O respeito para com Deus é o mais alto possível. É uma fé pura, sem as dúvidas que nós, intelectuais e sábios aos olhos deste mundo, continuamente alimentamos, especialmente quando a situação financeira aperta.

Mais de 30% dos participantes são crianças entre 6 e 12 anos. É difícil acreditar que não são capazes da menor brincadeira durante as pregações. Acompanham tudo com um silêncio respeitoso. Quem dera as crianças do mundo inteiro manifestassem o mesmo respeito a Deus como o encontrado nas daqui. Volto a repetir: é impressionante! A música é ministrada com tal entusiasmo, uncao e alegria que contagia todos a louvar a Deus. Durante as pregacoes costuma soprar um forte vento, que levanta uma onda intense de poeira que atinge a todos. Ninguem reclama. No Brasil, muitas vezes, o m’inimo desconforto…

Tudo por amor ao Evangelho

A dificuldade com comunicação com o Brazil é grande. A internet n’ao ‘e lenta, ‘e lent’issima. Lembro que estamos numa vila distante da cidade de Moshi, a principal cidade da regiao. Hoje consegui ler meus e-mails num computador do hospital local. Somente amanhã, dia 3, vou conseguir um telefone para saber como estão meus queridos no Brasil.

Toda missão tem um preço: Dificuldades financeiras, perigos de doença, hostilidades, acidentes, tudo, enfim. Missão, porém, é obrigação, não opção. Ai de mim se eu não evangelizar. Deus pedirá conta dos talentos que enterramos. Infelizes dos que guardam o dinheiro no banco, ao invés de usar para a evangelização. Se não sabemos o que pode nos acontecer no futuro, sabemos com certeza o que nos acontecerá caso não pusermos tudo o que somos e temos para que o nome de Jesus será glorificado diante de todos nos povos.

Creio que em dois ou tres dias tenho mais noticias. A proposito, o teclado daqui ‘e completamente diferente do da ABNT do Brasil. A falta de acentos n’ao ‘e proposital. A todos que me acompanham neste blog, peço orações. Fica o convite para acompanhar o andamento desta missão. Deus os abençoe. Que Nossa Senhora, Estrela da Evangelização, os animem a lançarem-se sem medo na maravilhosa aventura de anunciar o nome de Jesus a todas as nações. Amém!

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