domingo, 25 de abril de 2010

Nosso poderoso Advogado e Consolador




Celso Deretti


Estamos todos sedentos por liberdade. Dia e noite não fazemos outra coisa senão perseguir nossa libertação interior. A publicidade mundial trabalha para vender um único produto: liberdade. Temos pavor de qualquer situação que ameaça nosso senso de liberdade. Primeira conclusão: nossa procura por liberdade rege a nossa vida.

No fim das contas, temos duas fontes de liberdade, opostas e inconciliáveis: Jesus e o pecado.

São Paulo reconhece o poder que o pecado exerce sobre nossa liberdade: "Eu, porém, sou carnal, vendido ao pecado como escravo. De fato, não entendo o que faço, pois não faço o que quero, mas o que detesto. Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero" (Rm 7, 14-15.19). Quantos de nós, por exemplo, depois de uma confissão, prometemos a Jesus nunca mais cometer este ou aquele pecado e acabamos recaindo nos mesmos pecados?

Temos que reconhecer: o pecado exerce poder sobre nós. Por nossas próprias forças não somos capazes de nos libertar da tirania do pecado. Mas qual o problema? O pecado vem para nos destruir. Não somente isso. O pecado mina nossa confiança em Deus. Depois de pecar, nossa reação é fugir de Deus. Nosso acusador, o Diabo, tenta nos convencer de que não alcançaremos o perdão de nossos pecados. Após várias recaídas, passamos a acreditar que o pecado é invencível.

Nossa primeira fonte de liberdade, o pecado, portanto, é ilusória. Ao invés da liberdade que sonhamos, o pecado gera a morte (cf. Rm 6, 23), tristeza e desespero. A mente lógica do apóstolo Paulo conclui: "Na verdade, as aspirações da carne levam à morte e as aspirações do Espírito levam à vida e à paz" (Rm 8, 6).

Vamos para nossa verdadeira fonte de liberdade: Jesus. Continuemos com o pensamento de Paulo: "Agora, portanto, já não há condenação para os que estão no Cristo Jesus. Pois a lei do Espírito, que dá a vida no Cristo Jesus, te libertou da lei do pecado e da morte. Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não recebestes espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes o Espírito que, por adoção, vos torna filhos, e no qual clamamos: "Abbá, Pai!" (Rm 8, 1-2.14-15).

O Espírito Santo, portanto, nos é dado como Advogado (defensor) e Consolador, com a missão e o poder de nos libertar do poder do pecado. Como Advogado, nos revela Jesus como nosso Salvador que encravou na cruz o documento cujas prescrições nos condenavam; Como Consolador, nos ergue do nosso abatimento e nos restitui nossa confiança na insondável misericórdia de Deus quando pecamos. Consolar é estar com alguém em sua solidão. O pecado nos afasta de Deus, mas não afasta Deus de nós. Em nossas quedas podemos contar com o Espírito Consolador que nos traz força, coragem e ânimo para recomeçar.

Antes de ascender aos Céus, Jesus diz aos seus apóstolos: "Mas recebereis o poder do Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra" (At 1, 8). O mesmo Espírito Santo, Advogado e Consolador, derramado sobre os apóstolos no dia de Pentecostes, nos é dados gratuitamente hoje. E onde está o Espírito de Deus, aí está a liberdade. A liberdade não é um lugar, uma posse, uma doutrina ou uma canção. A liberdade é uma Pessoa: É Jesus, aquele que derrama o Espírito Santo sem medidas.

Todos nós, hoje, temos livre acesso a esta fonte inesgotável de liberdade. O Espírito Santo nos é dado não porque somos santos, para para nos fazer santos: "O Espírito e a Esposa dizem: "Vem!" Aquele que ouve também diga: "Vem!" Quem tem sede, venha, e quem quiser, receba de graça a água vivificante" (Ap 22, 17). Oração para todos os dias: "Vem, Espírito Santo".

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O segundo discípulo de Emaús





Celso Deretti


Amargurados, a passos largos, fustigados pelo vento que gelava-lhes as faces abatidas, aqueles dois homens querem afastar-se o mais rápido possível de Jerusalém. A cidade fora palco das terríveis cenas da traição, prisão, julgamento, flagelação, crucifixão e morte daquele que tinham como o Messias. Na tranquila Emaús, talvez conseguirão recompor-se e vislumbrar com melhor nitidez o confuso mosaico que se formara ao longo daqueles três anos como discípulos de Jesus – agora um simples defunto.
Como aceitar que aquele que ressuscitara mortos, dominara os piores demônios e alterava dramaticamente o curso na natureza, sofrera o castigo reservado unicamente aos criminosos mais abjetos do império romano: a crucifixão? Não bastasse isso, terão que suportar os insultos dos parentes: “Sempre suspeitei daquele homem”, dirá um. “ Vocês deixaram tudo para segui-lo... não dá pra acreditar!”, dirá outro. Tornar-se um verdadeiro discípulo de Jesus tem um preço: perder a própria fama (um verdadeiro horror à lógica humana).
A trágica morte de Jesus abalara a fé dos dois discípulos de Emaús, porque estavam ainda aprisionados à lógica humana. O próprio Jesus os repreende: “Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória? E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras” (Lc 24, 25-27).
Cléofas, um deles, confessa sua frustração a Jesus: “Nós esperávamos que...” (Lc 24, 21). Estou ainda aprisionado às minhas expectativas humanas? Aceito que a sabedoria de Deus é infinitamente maior do que os meus cálculos? Persevero na fé, mesmo quando não entendo tudo? Acredito na realização das promessas que Deus me fez através da Sagrada Escritura? Sou íntimo da Palavra de Deus? Sou obediente ao Magistério da Igreja (os profetas)? Quando provado, dou ouvidos ao demônio e me revolto, ou ouço Jesus e sigo em frente?
O mais lindo na história dos dois discípulos de Emaús é o seu desfecho: “Levantaram-se na mesma hora e voltaram para Jerusalém. Aí acharam reunidos os Onze e os que com eles estavam. Todos diziam: O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão. Eles, por sua parte, contaram o que lhes havia acontecido no caminho e como o tinham reconhecido ao partir do pão” (Lc 24, 33-35).
Jerusalém é o palco da ressurreição de Jesus. Quem teve seu encontro pessoal com Jesus ressuscitado – “Então, se lhes abriram os olhos e o reconheceram...” (Lc 24, 31) – sai do ninho da amargura e inicia uma vida nova como discípulo missionário de Jesus. Jerusalém é símbolo da Igreja. O verdadeiro discípulo de Jesus caminha com a Igreja. Minhas expectativas já não contam. O que importa é unir-me àqueles que, sem cessar, proclamam: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente!”.
Conhecemos o nome de um dos discípulos de Emaús, Cléofas. Quem é o outro? Sou eu. É você.