sexta-feira, 14 de maio de 2010

Verdadeiros adoradores





Celso Deretti


O telescópio espacial Hubble - há 20 anos sondando as profundezas do cosmos - identificou a existência de, pelo menos, 100 bilhões de galáxias no universo. Cada galáxia aninha cerca de 100 bilhões de estrelas. O diâmetro da Via Láctea, a nossa galáxia, nos dá uma idéia da extensão do universo; mede 100 mil anos-luz (um ano-luz é a distância que a luz percorre à velocidade de 300 mil quilômetros por segundo em um ano) e abriga mais de 200 bilhões de estrelas. O cálculo é simples: transforme 100 mil anos em segundos e multiplique por 300 mil. O resultado é a distância de uma ponta até a outra da Via Láctea.

Agora imagine um universo com mais de 100 bilhões de galáxias, algumas delas distantes bilhões de anos-luz de onde estamos (a galáxia A1689-ZD1, por exemplo, se encontra a 12,8 bilhões de anos-luz da rua onde você mora). Inimaginável! É muito improvável que nesta vida, algum dia, poremos os pés em um planeta da galáxia A1698-ZD1. Mas podemos, todos os dias, estar diante da face daquele que, do nada, trouxe à existência o universo inteiro: Jesus. "Ele é a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda a criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele" (Cl 1, 15-16).

Foi em uma noite de céu estrelado (sem os olhos do Hubble), que o rei Davi expressou seu maravilhamento diante do universo criado: "Os céus contam a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra de suas mãos" (Sl 19, 2). Davi era um verdadeiro adorador, porque reconhecia nas coisas criadas a glória do Criador: "Adorar a Deus é reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misericordioso. Adorar a Deus é, no respeito e na submissão absoluta, reconhecer o nada da criatura, que não existe a não ser por Deus" (CIC 2096 e 2097).

Para um livre pensador, a Eucaristia escandaliza. Não admite que Deus Criador, aquele que formulou todas as leis que regem o universo, possa estar contido num simples pedaço de pão. "O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, assim como o anúncio da paixão os escandalizou: "Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?" (Jo 6, 60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo mistério, e ele não cessa de ser ocasião de divisão. "Vós também quereis ir embora? (Jo 6, 67). Esta pergunta do Senhor ressoa através dos séculos como convite de seu amor a descobrir que só Ele tem "as palavras da vida eterna" (Jo 6, 68) e que acolher na fé o dom de sua Eucaristia é acolher a Ele mesmo" (CIC 1336).

O que fazer quando estamos diante do Santíssimo Sacramento do altar, exposto ou no sacrário? Derramar o nosso coração, submetendo sem reservas a nossa inteligência e a nossa vontade ao Rei universal, o Senhor do Céu e da terra. Nas palavras de Santo Agostinho, "Senhor, eu não te entendo mas eu te adoro". Podemos permanecer uma hora diante do sacrário sem pronunciar uma palavra. Jesus não se deixa impressionar por discursos bem elaborados; o que move o coração de Deus é um coração adorador, uma alma que se derrama, reconhecendo a própria miséria diante daquele que é a Misericórdia encarnada.

O Santo dos santos era uma sala do Templo de Jerusalém onde ficava guardada a Arca da Aliança. Neste recinto se realizava anualmente uma cerimônia de sacrifício expiatório de um cordeiro sem mácula (Cf. Ex 12, 5) pelos pecados do povo (Cf. Lv 4, 35) e era este o único momento em que o Sacerdote podia falar diretamente com Deus. Esta sala ficava separada do templo por uma cortina de linho. O Sacerdote entrava com uma corda no pé. Em caso de estar em pecado ele morria. E como o lugar era santíssimo, outros não poderiam entrar, somente ele. Então puxavam o corpo do sacerdote para fora do Santo dos Santos.

Hoje, além de podermos estar frente a frente com o próprio Deus feito homem, não temos necessidade de receber a santa Eucaristia com uma corda no pé. "Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, réplica do verdadeiro, e sim no próprio Céu, a fim de comparecer, agora, diante da face de Deus a nosso favor" (Hb 9, 24). Todas as vezes que adoramos o Santíssimo Sacramento e tomamos o Corpo e o Sangue de Jesus, é o próprio Jesus quem intercede diante da face de Deus a nosso favor, pelo perdão dos nossos pecados. Conforme o Papa Bento XVI, "A Eucaristia é para todos nós remédio de imortalidade".

Depois de contemplarmos as maravilhas da criação, não nos esqueçamos de irmos diante do sacrário para adorar aquele diante do qual toda a criação de prostra em adoração. E depois de adorarmos a Jesus, verdadeiramente presente na hóstia santa, não nos esqueçamos de que a Redenção eterna é dada àqueles que comungam o Corpo e o Sangue do Senhor: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna" (Jo, 54). Adoração e Comunhão eucarística são inseparáveis.